quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Fábrica de sonhos brasileira

quinta-feira, 27 de agosto de 2009
Por Wolney Batista


Comovido.
Foi assim que saí da sala de cinema neste domingo, 23, após assistir a "O contador de histórias".
O filme simples e emocionante nos transporta para a história (real) de Roberto Carlos, que assim como milhões de brasileirinhos era uma criança que só precisava de orientação e carinho, ou pouco mais do que isso ( por mais piegas que isso possa parecer).
Enquanto a sala que exibia o enlatado Harry Potter estava abarrotada de espectadores, o filme brasileiro, que está a menos de um mês em cartaz, somava uma dúzia de gatos pingados.
Lamento. Profundamente lamento.
Durante o filme, a cada cena em que o público se emocionava, eu olhava ao redor e pensava em quantas pessoas não iriam ter o prazer de se emocionar também; ou por preferirem ver blockbusters americanos ou por simplesmente não gostarem de filmes nacionais (já tive colegas que diziam que não iriam ao cinema pra ver filme brasileiro).
A verdade é que não produzimos mais só Xuxa e Didi.
Filmes como "O auto da compadecida", "Lisbela e o prisioneiro", "Os normais", "Se eu fosse você" (um e dois) e o mais recente "A Mulher invisível" - todos campeões de bilheteria - já consolidaram a nossa comédia na sétima arte.
Os filmes que eu intitulo de favela-sangue-e-sexo como "Carandirú", "Tropa de elite" e "Cidade de Deus" também já mostraram sua força junto ao grande público.
Mas as produções  mais primorosas, que contam ótimas histórias, com personagens riquíssimos e que dão aquela tapa com luva de pelica na nossa cara nos trazendo mais humanidade, estas ainda são pouco prestigiadas.
"O contador de histórias" faz parte desse bloco. Assim como "Zuzu Angel". Quem assistiu? (Tomara que mais do que a dúzia de gatos pingados).
Felizmente esse tipo de filme está aumentando.

"Do começo ao fim" e " Lula, o filho do Brasil" estão nessa mesma linha. O primeiro, que está previsto para estrear ainda neste semestre, já vem causando alvoroço. Com um enredo de dar inveja em Almodóvar, o filme leva para as telonas dois assuntos ainda muito polêmicos: a homossexualidade e o incesto.
O segundo, que só vai estrear em 2010, narra a sofrida e vitoriosa história do homem que saiu do sertão pernambucano e virou presidente de uma nação. E se não bastasse, tem a participação de Glória Pires (oba!) como mãe de Lula.
Os dois filmes são bem densos, aliás os três - ainda dá tempo de ver 'o contador' - são imperdiveis e brasileiros!!!
Gente, por desencargo de consciência vou deixar os traillers aqui.
Abraço a todos.




4 comentários:

Hugo de Oliveira

Hum...quero assistir esse filme. Porém, Do começo ao fim...ta me deixando sem ar...aff.


Abraços


Hugo

Márcio Gondim

Ir ao cinema assistir filmes nacionais deixou de ser uma experiência desalentadora; o excelente “O Contador de Histórias” é um exemplo marcante. A intervenção de uma pesquisadora francesa, Marguerite Duvas, faz marcas substanciais à existência do garoto Roberto Carlos (garotinho mineiro da década de 70 muitíssimo bem interpretado por excelentes atores mirins). Somos levados, de modo muito sensível, ao universo privado do menino. O filme utiliza-se da fantasia (universo imaginativo infanto-juvenil) para narrar episódios vividos, mesmo trágicos, como as violências sofridas, fazendo assim com que sejamos envolvidos por uma interessantíssima história de vida.
O extraordinário Paulo Freire, relevante teórico brasileiro, acreditava que ensinar pessoas a ler ia muito além da codificação e decodificação de palavras; o ensino da leitura pressuporia, essencialmente, ensinar a ler o mundo. É justamente essa significativa leitura que Roberto Carlos é convidado a adentrar; as vivências de violência, mal tratos e drogas podem ser abolidas, em substituição pela leitura do mundo, passando a ser uma passagem para compreender a cultura e valores. O garoto é apresentado a uma vida rica de sentidos e sentimentos, o que a princípio parece ser assustador. Os horizontes de Roberto são ampliados, tendo a auto-estima resgatada e encontrando sentidos bastante significativos à existência.
O bom e velho Bakhtin, teórico da “Filosofia da Linguagem” diz que as experiências vividas pelo sujeito revelam um enorme potencial para serem compreendidas e explicadas, mas precisam encontrar um signo para expressar. Contar histórias a partir de leituras significativas é um belo percurso realizado pela dupla Roberto-Marguerite; um caminho em que buscam a si mesmos e se encontram. Duas histórias de vida são reescritas e redesenhadas pelos sentidos vivenciais das palavras.
Certamente um filme imperdível! Que possamos multiplicar experiências semelhantes no nosso país!
*Parabéns pelo ótimo texto!

Adriano Mariano

Wolney, ótimo texto e ótima abordagem.
O Cinema brasileiro deixou de ser "números de bilheteria" e passou a ser "Qualidade Cultural".

Em terra de "Xuxa e os Duendes", talvez o cinema brasileiro nunca esteve tão bem quanto hoje em dia [em termos de qualidade], mas não digo o mesmo da bilheteria. Essa mudança cultural, infelizmente, é um processo lento, mas evolutivo.

Ana Beatriz

Sinceramente: não produzimos MESMO só Xuxa e Didi. O cinema nacional Brasileiro está cada vez mais melhorando, e alcançando a lista de mais vistos. Uma prova é "Se eu fosse Você", que é tão elogiado pela critica e conseguiu milhões e milhões de ingressos vendidos. Acho que esse preconceito que, "o quê é nacional não é bom" deveria sair da cabeça das pessoas. Afinal, temos que investir no NOSSO mercado, e não no dos Americanos!

 
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